Coleção de Artistas

Disse-me que, tal como eu, foi ao Rio de Janeiro e falou-me de uma sensação - quando viajava até ao Rio, a música À flor da pele de Zeca Baleiro nunca mais foi a mesma. E cantou para mim uma parte do refrão: “ando tanto à flor da pele que qualquer beijo me faz chorar”. Partilhamos a mesma sensação de que depois de se viver no Brasil, parece que a música brasileira que tanto ouvíamos, ganha outro significado. Parece que realmente entendemos e sentimos as músicas depois de as viver por lá.

Ofereceu-se para habitar o palco comigo. Lembro-me que estava sentado numa das cadeiras mais longe. Levantou-se e veio deitar-se na cama que faz parte do cenário. Deitados lado a lado, falou-me um pouco de si e quando lhe perguntei por um evento artístico que o tivesse transformado, fez um breve silêncio e respondeu-me o filme Ninfomaníaca de Lars Von Trier. Perguntei-lhe porquê? Disse-me: “Porque eu também sou ninfo”.

Numa digressão a uma cidade onde só fiz um espectáculo, uma única noite, apenas um espectador foi colecionado. Falou-me de quando viu um vídeo da Helena Almeida e porque não o esqueceu. A Helena Almeida a tentar subir a uma cadeira e a não conseguir. Não se esquece desse vídeo pelo lugar da falha que propõe. Pelo constante cair e tentar de novo… cair e tentar de novo... 

Contou-me que quando era adolescente interpretou a Julieta e durante os ensaios apaixonou-se pelo ator que fazia de Romeu. Inevitavelmente nunca mais se esqueceu dessa peça desse espetáculo.