collection/of/spectators
  • Instructions
  • About
  • Collection of People
  • News
Instruction 01:

I want to talk to you

I’m gonna call you on the 28th of October between 10am and 6pm (GMT+1). Just drop your name and your number here below.
I will talk with you either in Portuguese or in English. I want to know you as a spectator. I want to hear your experiences, the striking moments of your relationship with art and how this made you navigate the world, the city and your community. Our conversation will be recorded for further transcription, edition and online publishing.
Here’s how it works: I shall call you only once on that day, with no scheduling within the time frame, if it happens that you’re busy or unavailable, I won’t call you back. But don’t worry that much, as I’m sure we will have other opportunities to meet in the near future. Be aware that I don’t take income calls.

 

  • “E a miúda estava só fixada naquela artista a tocar violoncelo na rua e nesse momento eu comecei a chorar compulsivamente.”
    Afonso Abreu
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    Afonso Abreu

    Lisboa, Portugal

    Houve um momento, lembrei-me agora! Eu estava de férias com os meus pais em Espanha, e nós passámos por uma artista de rua que estava a tocar o violoncelo, nós passámos e depois eu fiquei a ver. Vi uma família com crianças a passar e uma das crianças ficou para trás a ver a mulher tocar e a família avançou toda. Os pais voltaram-se para trás e começaram a chamá-la e a miúda estava só fixada naquela artista a tocar violoncelo na rua e nesse momento eu comecei a chorar compulsivamente, porque, não sei porquê, se calhar percebi o impacto que a arte tem nas pessoas, não sei, a família passou toda por aquela artista e só aquela pessoa é que ficou. De repente só tinha um público, uma criança, mas se calhar era o único público que a artista precisava e eu lembro-me de ter chorado compulsivamente a ver aquele quadro, aquela cena e agora estou a recordar-me e estou a ficar um bocado emocionado outra vez, como se a pensar, é por isso que eu quero continuar pelo mundo da arte. Estar-me a lembrar deste momento agora… não é bem um espectáculo. Mas se calhar emocionou-me como nenhum espectáculo me emocionou. Porque foi verdadeiro foi mesmo autêntico.
    Agora, por exemplo, quando passo por artistas de rua, mesmo ali na baixa, tenho uma atenção redobrada e fico às vezes ali e dou dinheiro. Porque nada invalida eles estarem também num teatro ou numa sala de concertos, ou seja, graças àquela miúda eu mudei o meu paradigma também e a visão sobre quem faz arte na rua.

     

  • “I just love listening to all of the different sounds voices can make and her, there is something about the tone of her voice.”
    ALEXANDRA CÓLON
    Dublin, Irland
    Close ×Close ×

    ALEXANDRA CÓLON

    Dublin, Irland

    I think actually there is an album, that is called, oh god I’m gonna have to, it's by an english artist called NAO, it’s N, A, O, it’s her name, and she is a funk and R&B singer and she has an album that I'm gonna find now, it's called Saturn, and it came out in 2018 and I was going through, sort of, I think I was going through everything, a big break up, change and everything, and it was just a really really incredible album and I just heard it by accident and then I ended up listening to the all body of work and I just loved this...
    I think, I think with music for me it's always been the voice, you know, I can even listen a cappella music all day, I just love listening to all of the different sounds voices can make and her, there is something about the tone of her voice, she can like go so high but she is so soulful that it just, sort of echoed in me, so it’s like, it's very emotive and you just connect with it and the lyrics as well were very like, sort of became a parallel with what was going on with my life so I guess it became difficult to forget.

  • “Um edifício de dois andares, com música alta ensurdecedora, muito fumo no ar, um sítio aparentemente assustador, terrorífico.”
    RUI SANTOS
    Paço D’Arcos, Portugal
    Close ×Close ×

    RUI SANTOS

    Paço D’Arcos, Portugal

    Bom, eu queria tentar pensar numa coisa mais pequena e que desse ao mesmo tempo a ideia desse trabalho que parte dos criadores com menos possibilidade de expressão para o grande público, queria ir aí mas não estou a conseguir exactamente, portanto, vou ter de ir para uma coisa maior, para uma peça interativa, imersiva que eu vi no espaço do Hospital Júlio de Matos, chamada “E Morreram Felizes Para Sempre”, uma peça executada em loop, portanto, a peça era exibida duas vezes, a percorrer vários espaços de um edifício de dois andares, com música alta ensurdecedora, muito fumo no ar, um sítio aparentemente assustador, terrorífico, o que fez com que todos os espectadores se envolvessem bastante nessa experiência, a experiência pessoal, portanto, a experiência de cada espectador partia das escolhas que fizesse, naturalmente depois de ter uma premissa, uma sinopse mínima da história, e depois a partir dessa sinopse podia seguir os actores que achava que ainda nao tinha visto na primeira parte, ou seja, na primeira representação, e tentava seguir aquela história podendo por vezes ficar até isolado, o espectador com um actor só, a chamada cena one-to-one. Foi muito intenso, muito envolvente, eu vi esta peça duas vezes e se tivesse visto quatro talvez não tivesse visto a peça toda. A experiência do ponto de vista criativo envolveu-me bastante, acho que envolveu muita gente que lá esteve.
    Há uma cena específica, em que não sendo concretamente um one-to-one, a presença numa sala pequena com um único actor. Trata-se de um hospital psiquiátrico e portanto existia uma exibição de slides nessa cena na qual a personagem se via representada mas no entanto não tinha ainda a capacidade de se reconhecer, e pouco a pouco começa a reconhecer-se, tomando conta que ele próprio tinha sido paciente naquele hospital. A progressão deste reconhecimento, da pessoa que está ausente e que não sabe bem em que sítio está, ou como foi ali parar, de repente olha para uma fotografia, para um slide, e começa progressivamente a reconhecer-se. Esta transformação marcou-me imenso pelo desempenho deste actor.

     

  • “Czechoslovakia was at that time still communist, and actually to be part of something as international as that was something really fascinating”
    LUCIA FALTINOVÁ
    Nitra, Slovakia
    Close ×Close ×

    LUCIA FALTINOVÁ

    Nitra, Slovakia

    In the moment I cannot think of anything that could be so, in terms of an artistic event, oh yeah I do have one! Ok, back in 1988, there was the Olympics, with an Olympic art festival in Seoul, South Korean. I managed to join my dad, my father is a fine artist, he is a visual artist, I went with him there, it was quite extraordinary because I was 18 and it was quite incredible that we managed to get a travel permit. Czechoslovakia was at that time still communist, and actually to be part of something as international as that was something really fascinating of course. I was 18 so I was there supposedly representing my father and, you know, some of the most open minded people in the then Czechoslovakia, but also, I actually didn't tell my dad about it, I subsequently emigrated, and stayed in the United States, so yes it was quite a milestone. You may perhaps be more interested in the artistic aspects of that, which also was quite significant because, I can say, a lot of the artists that were there to be part of that international community, facing the isolation I was experiencing with my family here, over the years of communism, that was quite something.

  • “Se bem que não era a primeira vez que ía até Cabo Verde, já conhecia o Tarrafal, o campo de concentração, mas não desta forma.”
    MARZIA BRUNO
    Aveiro, Portugal
    Close ×Close ×

    MARZIA BRUNO

    Aveiro, Portugal

    Uma experiência que me mudou muito foi provavelmente a exposição que eu montei no Tarrafal, porque a vivi intensamente. Vivi lá uns meses, fui preenchida de forma diferente, a falta de água, o excesso de sol, ter de cuidar do chão, o amor das pessoas, os dissabores com alguns artistas, a luta de conseguir fazer as coisas a tempo e o facto de se viver com pessoas que vivem com nada. Eu fiz uma exposição, trabalhei no campo de concentração do Tarrafal, foi a primeira exposição de arte contemporânea que foi instalada naquele espaço, é um espaço que por si só vibra muito porque estiveram lá presos, respira-se mesmo luta. Então trabalhas com estes espaços fechados, as celas, mas ao mesmo tempo tens muita luz, enfim, foi uma experiência que a mim me marcou muito, como artista plástica mas me marcou muito como pessoa e fez-me pensar muito sobre lidar com o outro. O facto de também estar a viver com realidades que até agora não tinha experienciado, se bem que não era a primeira vez que ia até Cabo Verde, já conhecia o Tarrafal, o campo de concentração, mas não desta forma. Imagina estar a entrar no campo, fizemos 4 km a pé e eu estava com sede, instintivamente apanhei a minha garrafa para beber e aparece uma criança a pedir-me água, claro que eu dei a garrafa e fiquei o dia todo a sentir de facto o que é ficar-se o dia todo debaixo do sol com sede. 
    Eu uso muito o batom e um dia estava com um batom vermelho, esta imagem ficou-me mesmo marcada, uma criança disse-me para lhe dar um beijinho na mão, a mão dela estava empoeirada, suja, eu não fazia ideia à quanto tempo ela não lavava a mão, no primeiro impacto não me fez impressão nenhuma, fechei os olhos e dei um beijo na mão da menina. De seguida sabes o que ela faz? Com o dedo tira o batom da mão dela e passa na boca. Coisas assim no meio de uma montagem de uma exposição, marcou-me muito, como pessoa, como espectadora, como artista plástica, como ser humano.

     

  • “It was my first experience of theater, by my own, like I really wanted to go by myself and I did it.”
    Anna Kotova
    Ljubljana, Slovenia
    Close ×Close ×

    Anna Kotova

    Ljubljana, Slovenia

    I remember for example one theater in Donetsk, Ukraine in my home city. It's an amateur theater, so people that play in this theater are like volunteers and it was the first time that I knew something like that existed. They invited me to watch their performance and they were presenting Tchekov’s and his short stories. And I remember it was quite funny because Tchekov also has like anecdote style stories in these short ones and so yes, it was nice to watch, and why I remember this, mainly because it was my first experience of theater, by my own, like I really wanted to go by myself and I did it, it was a new experience for me that's why I remember this.

  • “At a moment I was a spectator of myself. I was changing my view to check that each of us was at the right place, with the right words at the right tone.”
    Jean-Michel
    Toulouse, France
    Close ×Close ×

    Jean-Michel

    Toulouse, France

    20 years ago I was part of a troupe of theater. I had the opportunity to go on stage with a professional artist to tell a poem to the audience. It took me a very very very long time to learn this poem. The text was very complicated. At the time, I was working a lot so I took advantage of any free moment to learn this text. On the very day we had to play it, I came to the theatre and the animator of the group asked me to tell the text. I just started, he stopped me and called his wife. I restarted a little, spoke a little to his wife to try to arrange this to its best. So, she let me tell the text 1 time, 2 times, 10 times and she kept stopping me and asking me to play with the rhythm. It was strange because at the end I was feeling that it was not really me telling that text. So I went onstage with the actor, we told the text, I did my best following every advice I just received, paying so much attention to the text itself that at a moment I was a spectator of myself. I was changing my view to check that each of us was at the right place, with the right words at the right tone. I could succeed. At the same time, I could hear me telling the text and it was the best I ever made. I didn’t block in any words. I had a terrible fear but I could see I was telling the text in a good way, without hesitation. The interaction with the actor was really the most perfect. It was a huge emotion.

  • “I don’t cry very much in the theater but in that show I cried from the first moment till the last one. It was really heartbreaking for me. At the same time, there was joy in it because they were sharing their story and they were saying that by doing it, it was making their life filled with purpose.”
    LAURA
    Milan, Italy
    Close ×Close ×

    LAURA

    Milan, Italy

    A show that really touched me was one that I’ve seen at The Venice Biennale in 2016. I was there for workshops of playwriting and I had the chance to learn from great british  playwrights. I saw this show by this italian group called Babilonia Teatri. The show was called “Pinocchio”. The protagonists of the show were 3 guys who have survived a coma and so basically they were making a comparison between Pinocchio and their life. They all had a car accident and they were in coma for many years and when they woke up of course their life was completely different and they felt like Pinocchio. They felt like their bodies were not the same as they used to be. But they were so happy in sharing this experience, in sharing with the audience and in telling that story. I don’t cry very much in the theater but in that show I cried from the first moment till the last one. It was really heartbreaking for me. At the same time, there was joy in it because they were sharing their story and they were saying that by doing it, it was making their life filled with purpose. Because they were not professional actors, they were actual guys who had these accidents and they worked with this group to put up this show and share their experiences. There was a moment they were playing “Yesterday” by The Beatles, and they were holding papers with the lyrics of the song. And you know that line that says “I’m not half the man I used to be?” And in that moment, I have never been that moved by a theater piece. That moment was the combination of the words, the music, their situation, their approach. I don’t know, I was like this is so emotional and there is joy in it. It was a way to empower them. They were put at the center of their own narrative and they could tell their stories. It was their words and their input. It was a very moving show, I’ve never felt such a bond with the actors. In the end, I really wanted to hug them.

  • “She just really has a very interesting life for me. You must be really courageous to tell bad things about yourself. We are usually stupid that we prefer to lie.”
    ISABEL LORENTE PÉREZ
    Santander, Spain
    Close ×Close ×

    ISABEL LORENTE PÉREZ

    Santander, Spain

    I like reading very much. I have many books that I like very much. For example, “Manual para Mujeres de la Limpieza”de Lucia Berlin. I like short stories very much and these are true stories about her life. It is very interesting for me. She has a very particular life. She has a very big family, she became alcoholic and she worked pretty much in a lot of different jobs, from cleaning to translation. She just really has a very interesting life for me. You must be really courageous to tell bad things about yourself. We are usually stupid that we prefer to lie.

  • “There was a crowd of a million people around us and these big trucks transformed into speakers, so the music was really loud.”
    Barbara Gortnar
    Ljubljana, Slovenija
    Close ×Close ×

    Barbara Gortnar

    Ljubljana, Slovenija

    It was an experience being in Bahia for Carnival. The taxi driver didn’t want to take us there, he said it was too dangerous. So, we walked there. There was a crowd of a million people around us and these big trucks transformed into speakers, so the music was really loud. I remember they were saying : “Porquê parou? Parou Porquê?” I was with my sister and her boyfriend at the time, we were walking together, holding each other’s hands because it felt really dangerous in such a mess of people. But suddenly, I was left alone. In the middle of all these people. So I climbed a fence to get away from the confusion, and there was a woman selling fruits. She was sleeping there. People were passing by and asking “how much does it cost?” But she didn’t react so I went to her and asked “how much? How much?” She said “cien”! So all of a sudden I was helping her sell fruits in the middle of Salvador da Bahia. Selling fruits!!! It was just perfect. A fantastic experience.

  • “When you watch a dancer it is somehow a conversation. They are talking to you without words, using their body and because it is so open it lets you as a spectator.”
    EVA NAD
    Slovenia
    Close ×Close ×

    EVA NAD

    Slovenia

    When I saw the first contemporary dance performance, it was really a big experience for me. I went to spaces in my mind I never thought about before. It was really good because after the performance I talked with my friend about the performance. Everybody read it in different ways and it created different associations and thoughts about it. This is when I started looking more for contemporary dance. It also made me start to dance and take some courses, a lot of courses. I started a group of dancers here at our local community, with young women. It was a really big transformation for me because what I like in dance is that you use your body while you move. It can be a kick for some thought or for some topic. Also, if we talk about dance like performing: no matter how many people will see it, everybody will take it some different way. When you watch a dancer it is somehow a conversation. They are talking to you without words, using their body and because it is so open it lets you as a spectator use your own experience or past while you’re watching this dancer in front of you in the moment. You associate from your life and it is a nice real meeting point.
    I want to share contemporary dance. I want to show people to not be scared of it or take it as strange. It is a building of community, a way to meet, a way to speak Hungarian.

     

  • “Seeing them do shows with no money, little organization with incredible humanity and effort and so so true, it’s still one of my favorite things that I’ve seen.”
    MARIA VERONICA DEL CERRO
    Santander, Spain
    Close ×Close ×

    MARIA VERONICA DEL CERRO

    Santander, Spain

    I’ve studied in London and I’ve watched a lot of theater. I came to visit my boyfriend in Spain. We were hanging out in a little pueblo in Spain, we’re just kind of having lunch and walking around. We got to this plaza where there was a group telling stories. They had a stage. They were having their final show. It was a comedy class - like how to do your own stand up comedy. So they would each do their own monologue. They were amateurs, just people from the pueblo and they each took turns doing their final presentation. We just stumbled upon it, sat down and watched it. It’s one of the things I won’t ever forget. It is one of my favorite performances ever because it was so beautiful to watch the risk that they were talking. I love standup comedy but watching people that know each other, you know, putting themselves out there… It was an experience. Seeing them do shows with no money, little organization with incredible humanity and effort and so true, it’s still one of my favorite things that I’ve seen. I always remind myself when I’m myself doing theater, of how simple it can be. Often it’s more effective, the more simple it is.

  • “Uma mãe que abusa da filha, sei lá, aquilo tocou-me bastante, é inspirador e ao mesmo tempo enervante.”
    SALOMÉ SANTANA
    Sever do Vouga, Portugal
    Close ×Close ×

    SALOMÉ SANTANA

    Sever do Vouga, Portugal

    Vi pouco teatro mas sou muito aberta a ver filmes e séries. Talvez a série “The Act”, porque fala de uma história real de uma mãe que abusa da filha, sei lá, aquilo tocou-me bastante, é inspirador e ao mesmo tempo enervante. Marcou-me no sentido de que não se pode confiar em ninguém, mesmo os próprios pais, eu não tenho esse caso, mas sei de muita gente que passa por isso, de ser abusado pelos pais. Nós nunca sabemos o que se passa dentro de quatro paredes e isso faz-me olhar para o mundo, ficar um bocado de pé atrás, isto é um bocado pessimista de se falar.

  • “Gosto de ver todo o tipo de filmes, desde os filmes premiados até aquilo a que eu chamo de cinema chunga.”
    NUNO OLIVEIRA
    Pombal, Portugal
    Close ×Close ×

    NUNO OLIVEIRA

    Pombal, Portugal

    É engraçado, portanto eu gosto muito de cinema e coleciono, entre aspas, filmes e é curioso que quando andava na universidade em Faro, comecei a ir às sessões do cineclube de Faro e foi nessa altura que comecei a interessar-me pelo cinema mais alternativo. Quando eu era muito novo não me apercebia que eu já gostava de ver filmes, por exemplo, uma das memórias que eu tenho aqui em Pombal, de um sítio que já não existe, eu devia ter para aí uns 6 anos, ainda era aquele senhor que passava os filmes com um projector, daqueles antigos e punha aquilo no meio da, neste caso foi num telheiro, instalavam ali um ecrã e a gente assistia ao filme, ali ao ar livre por exemplo, à tempos lembrei-me disso porque lembro-me perfeitamente de estar a ver o “Grande Ditador” do Chaplin, lembrar aquela cena dele com o balão em forma de globo terrestre, lembro-me perfeitamente dessa cena. Uns anos mais tarde,  também com o Charlie Chaplin, aconteceu-me também uma história, mais ou menos engraçada, estava em Moçambique, a minha irmã esteve lá a morar uns anos, eu andava a passear, a fazer uma viagem de carro por Moçambique e encontrei um autocarro, algo a ver com a embaixada da Itália, andavam a percorrer Moçambique com aquele autocarro e paravam em aldeias, terras sem cinema e faziam aí sessões de cinema. Achei aquilo curioso e fui nessa noite assistir a uma dessas sessões. Outra que achei engraçada foi num campo de futebol, eles a passarem um filme do Charlie Chaplin, mas isto já em 2000 e qualquer coisa e as pessoas ali a rirem-se, para muitas delas se calhar era a primeira vez que estavam a assistir a cinema, eu fiquei ali mais a ver a reação das pessoas do que realmente o filme. Achei engraçado porque são duas memórias que guardo de cinema e ambas com o Charlie Chaplin associado. Eu não há dia que passe que não veja um filme, pelo menos, ainda agora tive a acabar de ver um. Eu trabalho num sítio que, estou a atender ao balcão, numa daquelas lojas de compra e venda de ouro e há dias que tenho clientes como há outros dias que estou aqui o dia inteiro na loja sem ter ninguém, então trago sempre um filmezito para o caso de não ter ninguém. Meto o filme a passar e pelo menos estou entretido a ver um filme. O filme que vi hoje foi um filme asiático, “O Lago dos Gansos Selvagens”, mas eu gosto de ver todo o tipo de filmes, desde os filmes premiados até aquilo a que eu chamo de cinema chunga.

  • “Fiquei durante um certo período com uma obsessão saudável pelo Ionesco.”
    ANTÓNIO RIBEIRO
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    ANTÓNIO RIBEIRO

    Lisboa, Portugal

    Acaba por ser uma experiência que não tem muitos anos então está muito vívida na minha memória, eu sempre gostei de teatro mas não tinha por hábito ir regularmente, então por alguma coincidência eu fui ver uma peça de teatro chamada a “Lição” de Ionesco, aqui no Teatro Meridional, que é o teatro que fica perto de onde eu moro. Lembro-me vividamente dessa peça porque foi uma peça que me marcou de uma forma tão forte que a partir daí passei a ir ao teatro com regularidade, lembro-me que a partir dessa peça eu tive a sorte de assistir a outras peças, nessa altura, que também foram igualmente boas o que acabou por reforçar essa vontade de ir ao teatro, mas essa peça foi a primeira. Para além desta questão do teatro enquanto espectador, o Ionesco foi importante porque eu não sabia nada sobre o Ionesco e acabei por descobrir o que era o teatro do absurdo e foi algo que me apelou imenso, que me atraiu imenso. Comecei a investigar sobre isso, comecei a ler sobre isso, fiquei durante um certo período com uma obsessão saudável pelo Ionesco e tentei descobri-lo, os livros dele são muito difíceis de encontrar, mas tentei arranjar alguns, aliás ainda hoje uma das peças dele, o “Rinoceronte”, acaba por ser a minha peça de teatro favorita de todas. Marcou-me, era uma peça num registo que eu não conhecia, que nunca tinha assistido, acabei por ficar muito impressionado com o facto do teatro do absurdo sobreviver tão bem ao tempo e conseguir ter esta contemporaneidade, conseguir ter diversas interpretações. O facto de o teatro do absurdo ter um significado muito próprio para quem o escreve, para quem prepara a peça, é impossível, creio ser impossível, para o próprio espectador apreender todos os significados e todos os signos por assim dizer, que tenham sido propostos à partida, ou seja, há toda uma experiência que o teatro do absurdo possibilita de onde podemos retirar vários tipos de significados.

  • “I think it was the first time that I saw my own city with different eyes.”
    ANNA DE MARTINI
    Milan, Italy
    Close ×Close ×

    ANNA DE MARTINI

    Milan, Italy

    It's a good question, I think it was a show, a performing-art in which I participated, by Rimini Protokoll, in my town. Honestly I don't remember exactly the name of the performance but it consisted of a tour into our town so in my case it was Milan and it's curious I think it was the first time that I saw my own city with different eyes or with a different point of view. Also for me that I've never been a performer, I've always been a spectator, walking into this performance and crossing the city and feeling that the other people were looking at me, because we were stopping and doing some things during our walk and all the eyes on me... it was really changing my perspective.

  • “Aquilo começa com “dia 22 de dezembro foi o dia em que o meu pai morreu” e pronto dia 22 de dezembro foi o dia em que o meu pai morreu.”
    NÍDIA MIRANDA
    Sintra, Portugal
    Close ×Close ×

    NÍDIA MIRANDA

    Sintra, Portugal

    Nessa altura eu estava a atravessar uma fase um bocadinho mais down, como nós temos todas, não é, a vida é feita disso. E fui assistir à tua peça com uma amiga, e como todas as tuas peças que são sempre bastante reais, fala muito de sentimentos e o que somos nós todos, e talvez por estar mais sensível a peça estava a bater mais. E o último artista que tu falaste antes de chamares alguém ao palco foi sobre um rapper do Algarve, que tu até cantas a canção dele, e aquilo começa com “dia 22 de dezembro foi o dia em que o meu pai morreu” e pronto dia 22 de dezembro foi o dia em que o meu pai morreu. 
    O meu pai morreu quando eu tinha 18 meses, foi uma figura que eu só criei na minha cabeça, que não existe, não existe na minha memória, existe com a memória descritiva dos outros. E eu acho que alguns problemas que eu tenho na minha vida - que não são problemas nenhuns, pronto, as questões que todos nós temos ao nível de carências e afetividades, como nos posicionamos na vida - tem a ver com o facto de quem enterra uma pessoa com 18 meses, que é um elemento fundamental na nossa vida, nunca tem a oportunidade de fazer uma coisa que as outras pessoas que têm convivido com essa pessoa fazem, que é o luto. Porque nós já nascemos com isso, portanto não há um processo de luto, e tu não conseguindo fazer o processo de luto há uma data de ciclos que tu não consegues fechar, portanto tu cresces com ciclos abertos que eu acho que só com muita terapia é que vais conseguir fechá-los. E esta nossa conversa faz terapia. Eu acho que todas as pessoas saudáveis devem fazer terapia, são as mais saudáveis que existem. Tenho percebido que ao longo da minha vida tenho estado sempre a fazer esses processos, umas vezes consciente outras menos consciente e quando eu decidi começar a abraçar a terapia há uns anos percebi que é uma coisa que eu tenho feito muito agora, e como eu estava num momento mais frágil… Bom, eu lembro-me perfeitamente, eu estava com a minha amiga e tu começas-te a dizer o que o rapaz em questão dizia, que eu acho que aquilo era um rap, quando ele diz “22 de dezembro” eu agarrei no braço da minha amiga e disse “não vais acreditar isto é a morte do meu pai”, ou seja, aquilo, quando tu estavas a falar, aquela pessoa ali estava a falar de mim, não estava a falar dele, tu estavas a falar de mim. E pronto a diferença é que aquilo foi em 91 e o meu caso foi em 88, mas sim a minha mãe criou-me sozinha e nunca mais tive um elemento masculino. Então aquilo fez tudo muito sentido para mim, de quem estavas a falar ali naquela altura era sobre mim. Quando chamaste alguém para ir ao palco eu fui imediatamente, porque aquela peça era sobre mim não era sobre mais ninguèm. 

     

  • “Nunca tinha sentido medo a ver uma peça.“
    ANDRÉ DE CAMPOS
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    ANDRÉ DE CAMPOS

    Lisboa, Portugal

    Há uma peça que me transformou bastante e transformou-me no sentido de eu nunca ter sentido o que senti ao ver aquela peça, nunca tinha sentido aquilo que senti. Que foi medo. Nunca tinha sentido medo a ver uma peça. O mais engraçado é que enquanto espectador nós estamos numa posição um bocado confortável não é, sempre, e hoje em dia depois de tudo aquilo que está acontecer, por causa do paradigma que estamos a viver, é uma posição desconfortável porque estamos com máscaras, não temos ninguém ao lado, não é das situações mais cómodas para se ver espetáculos mas ao mesmo tempo cria-nos uma posição muito confortável, cada vez mais confortável e cada vez mais distante, eu acho, do que está acontecer em palco. Isto tudo para dizer que, ao contrário daquilo que nós sentimos agora, ou daquilo que eu sinto agora, cada vez mais, nessa particular peça eu senti mesmo medo. E é uma das coisas que não se sente muito enquanto espectador, eu pelo menos não costumo sentir muito. Foi uma peça do Castelucci, foi no São Luiz, acho que foi há uns 2 anos atrás, o “Democracy in America”. A peça para mim, foi uma das melhores peças que eu já vi em toda a minha vida, por várias coisas, desde o tema, às luzes, ao som, à maneira como a peça estava toda feita e criada. E o Castelucci sempre foi um criador que me suscitou muito interesse devido ao background dele, enquanto criador, uma pessoa que vem das artes plásticas, uma pessoa que estudou os mestres todos e que utiliza isso como referência para fazer as peças dele, portanto há sempre uma referência quase ao nível mitológico não é? Ele quase que apresenta o Olimpo, sempre que faz peças e isso é uma coisa fascinante.
    Só que nessa particular peça, acontecia uma coisa em palco antes de me dar medo, que me pôs num sitio muito especifico, parecia uma espécie de possessão e depois um exorcismo a seguir. E aquilo estava mesmo bem feito, ou seja, eu nunca assisti a uma possessão na vida e nunca assisti a um exorcismo na vida mas da minha imaginação e do meu pensamento, aquilo era real. Era o mais real possível, é claro que eu sabia que não era e que aquilo era só um espetáculo e que havia sempre essa posição de conforto que eu procurava. Só que houve um momento particular na peça, que eu não consigo explicar como é que ele fez, como é que aquele sítio foi feito, como é que aparecia, estava tudo escuro e aparecia um braço no meio do nada, no meio do palco, mecânico, com luzes, a música estava assim ao rubro, uns baixos ao rubro, e esse braço que eu não sei como é que foi feito, deu-me um medo incrível. Um medo do inexplicável, como é que de repente eu estou a ver uma coisa, e eu já estive do outro lado, eu sei mais ou menos como é que as coisas são feitas, é quase aquela sensação de um ilusionista que vai ver o espetáculo de outro ilusionista e sabe mais ou menos como é que as coisas são feitas, só que naquele momento eu eu acho que me senti um verdadeiro espectador porque eu não sei como é que as coisas foram feitas e esse não saber, esse não conseguir explicar de uma maneira racional, ou minimamente racional na minha cabeça fez-me ter muito medo. E esse medo fez-me viajar para outros sítios, fez-me arrepiar, fez-me contorcer-me todo na cadeira, fez-me questionar se eu não devia me levantar e ir embora, fez-me questionar se eu estava realmente a alucinar ou não… é uma sensação muito estranha, estás num sítio muito concreto, muito racional e tiram-te o tapete, tiram-te o tapete da maneira mais inusitada possível. E ainda hoje em dia eu não sei como é que aquilo foi feito, e ainda hoje em dia eu não sei se aquilo que eu vi foi realmente aquilo que aconteceu.

  • “Porque eu estava a ler o livro e dizia o início de uma carta e a minha avó debitava-a toda.”
    Tânia Ramos
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    Tânia Ramos

    Lisboa, Portugal

    Eu sempre fui muito incentivada a ler, o livro mais marcante para mim é o “Amor de Perdição” porque era o livro da minha avó, a minha avó tinha dois ou três livros desde sempre e ela lia-os em loop. E quando eu comecei a ler... bom a história do “Amor de Perdição” é a história do Simão e da Teresa que são um casal super apaixonado, super, é um “Romeu e Julieta” português. E o que acontece é que há muitas cartas durante o livro e a minha avó sabia-as de cor, e a minha relação com esse livro é marcante pela minha relação com a minha avó. Porque eu estava a ler o livro e dizia o início de uma carta e a minha avó debitava-a toda e isso sempre foi uma coisa muito bonita e quando ela faleceu era um bocado o livro de refúgio que eu tinha para estar com ela. 
    Em termos de peças nunca fui habituada em criança a frequentar teatro mas quando me juntei com o meu companheiro foi na altura em que a Madalena Vitorino estava a fazer o “Vale”, que é uma peça com participação da comunidade e então eu fui participante na minha freguesia na Baixa da Banheira. E foi uma experiência que me marcou, bom primeiro meteu-me em palco que era uma coisa que eu nunca pensei fazer, tirando pequenas festas ou pequenas coisas com os amigos, era uma coisa que nunca pensei fazer. E ao mesmo tempo fez me ver tudo o que está por de trás de uma peça, tudo o que é necessário para fazer os ensaios, a equipa de produção, compreender um bocadinho, deslindar um bocadinho aquele novelo do que é pôr uma peça em cima de um palco. E isso fez também com que eu me aproxima-se do teatro e da dança, coisas que eram muito fora do meu espectro, da minha imagem do que era o teatro. Para mim o teatro era o teatro clássico porque era aquilo que nos vendiam na escola, pronto, que não está muito ligada às artes.

  • “E este movimento coletivo daquele grupo de miúdas entusiasmadas porque tinham uma borla foi o clique para começarmos a ver teatro.”
    CLÁUDIA MATOS
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    CLÁUDIA MATOS

    Lisboa, Portugal

    A Diana Niepce fez um projeto na Biblioteca de Marvila com artistas com deficiência e essa experiência foi muito marcante. Por exemplo movimentos tão simples como subir as escadas, o processo que foi para aquelas pessoas que estavam de cadeira de rodas, fazia parte do espetáculo, era mesmo essa a intenção. Foi a primeira fez que fizemos um espetáculo com audiodescrição na Biblioteca, portanto houve um processo com vários desafios, claro que aqui eu também estou a falar com uma perspectiva de programadora, misturo as coisas, mas não deixo de ser espectadora por isso. Foi um projeto que me marcou muito como espectadora e como programadora. 
    Outra situação que não é uma peça, mas eu comecei a ver teatro devia ter uns 16/17 anos, curiosamente não porque fosse influenciada por alguém, quer dizer, no fundo era, mas o formato é que não é comum. Na altura havia uma rádio em Odivelas, como é que se chamava… eles faziam imensos passatempos, imensos, imensos, imensos, davam bilhetes. Era uma rádio local que já não existe, e essa rádio oferecia imensos convites e a mãe de uma amiga minha ligava imenso, tinha imensos convites, às vezes ela conseguia 5 e 6. E então nós, aquele grupo de miúdas de 16 anos começámos a ir ver teatro assim, porque tínhamos os bilhetes. Íamos ver, e eu quando olho para trás eu não consigo dizer uma peça ou um momento de uma peça que me tenha marcado mas tenho sempre presente aquilo que foi a hipótese de começar a ver, porque de outra forma na altura eu nunca teria começado a ver por iniciativa própria ou porque não tinha dinheiro, ou sei lá… por mil razões. E este movimento coletivo daquele grupo de miúdas entusiasmadas porque tinham uma borla foi o clique para começarmos a ver teatro. E depois começou a ser quase um vício, às tantas já nos organizávamos para irmos ver uma série de coisas e no meu caso ainda resultou em mais, que foi para além de ser espectadora começar a trabalhar também na área. São momentos de clique, que fazem uma mudança, que mostra um novo mundo, que abre uma possibilidade e que até ali era completamente desconhecida. Não havia esse hábito em casa, não havia essa procura, portanto era inexistente, eu nem sequer sou da altura em que as escolas investiam muito nisso, eu não me lembro de ter ido ver nada com a escola. 
    Era uma rádio local, eu tenho muita pena de não me lembrar do nome, eles divulgavam imensa cultura, do que se estava a passar.

     

  • “Se calhar estas são as duas figuras artísticas com quem mais me identifico, a Florbela Espanca e a Marina Abramovic.”
    PATRÍCIA SANTOS
    Viseu, Portugal
    Close ×Close ×

    PATRÍCIA SANTOS

    Viseu, Portugal

    Desde pequena que há uma escritora que me acompanha muito que é a Florbela Espanca. A poesia é particularmente relevante para mim, eu gosto de escrever poesia. Essa escritora, identifico-me muito com ela desde os meus 12 anos. E ela não é propriamente a leitura mais feliz que se possa fazer por uma miúda de 12 anos, mas gosto muito. 
    Em termos mais performativos, há uma artista que infelizmente nunca a vi ao vivo, mas já vi imensos documentários sobre ela, que é a Marina Abramovic. Gosto muito dela, identifico-me muito com ela, gosto da questão toda dela de trabalhar a vulnerabilidade humana. Gostava muito de ir ver o museu dela. Se calhar estas são as duas figuras artísticas com quem mais me identifico, a Florbela Espanca e a Marina Abramovic.

     

  • “Esse concerto para mim foi um Tim Burton com pipocas paradas.”
    RAQUEL BULHA
    Loures, Portugal
    Close ×Close ×

    RAQUEL BULHA

    Loures, Portugal

    Eu realmente gosto muito de ouvir música e gosto de conhecer música nova. Ainda por cima o programada que eu tive, que eu tenho ainda, porque está na minha cabeça! É música chamada - música do mundo. Portanto os concertos é das coisas mais importantes. Há dois momentos, um no Teatro São Luiz em Lisboa, dos Godspeed You! Black Emperor, porque foi no início criativo da minha vida na rádio, porque eu ainda estive na Antena 3 um ano, em que estava a fazer o programa da manhã, não tinha nenhum programa autoral, depois a partir daí é que começou a surgir a oportunidade de fazer programas autorais e em termos artísticos a coisa funcionou melhor e foi mesmo no auge e estava a começar a conhecer outros artistas e outros universos. Então, Godspeed You! Black Emperor, eu lá em cima no topo do Teatro São Luiz a olhar cá para baixo e o lustre estava em baixo de mim, e costumava estar em cima, sempre, quando eu ia aos espetáculos, mas ali estava em baixo, eu estava mesmo por cima, e foi uma viagem que eu não me vou esquecer nunca mais, nunca mais. Estás a ver quando beijas alguém e estás apaixonado e não pára, como o filme do Tim Burton o “Big Fish”, as pipocas que ficam assim paradas, pronto esse concerto para mim foi um Tim Burton com pipocas paradas, neste caso era um lustre, um candeeiro ali parado e os gajos ali a explodirem a tocar - Godspeed You! Black Emperor!
    E depois outro foram os concertos que vi em 2002, o primeiro o Popa Chubby e de outros mexicanos em Sines, no Festival de Sines, isso marcou a minha vida profissional e é curioso porque a minha vida profissional é indissociável da minha vida pessoal. 
    Eu estou cada vez mais convencida disto, a nossa perspectiva é o que nos faz, é a perspectiva, e posso optar, posso optar por ser uma pessoa triste, ou não, nós podemos ter todos os momentos, eu tenho direito a tudo, mas depois posso optar por ficar assim ou assado, há pessoas altamente pessimistas e querem estar ali e gostam… mas é tudo uma questão de perspectiva.

  • “Eu quero poder dar o meu corpo eventualmente a alguém que queira partilhar uma ideia assim.“
    MARIA INÊS ROQUE
    Lisboa, Portugal
    Close ×Close ×

    MARIA INÊS ROQUE

    Lisboa, Portugal

    É engraçado isso que referes, de um livro poder conter a tua história e isso ser tão especial. Há duas semanas estive no São Luiz a ver a peça da Mónica Calle em que ela disse mesmo isso e são os mesmos sentimentos, é um livro da Dulce Maria Cardoso que quando ela leu sentiu exatamente a mesma coisa.
    É engraçado e acho que é bom haver duas mulheres artistas a referir isto. E isto é para todos, porque os livros são democráticos, os livros estão à disposição de todos e cada um de nós pode fazer uma história e reconhecer-mo-nos numa história. E essa é a magia da literatura em parte, mas é bom pegar nessa ideia que é quase privada, não é uma coisa que se partilhe muito, quando lemos algo que diz tanto de nós, normalmente guardamos para nós. 
    Eu lembro-me de… eu acho que era adolescente, eu sei que já me interessava um pouco por teatro e por artes performativas, mas ainda não prestava a devida atenção. Não ia muito ao teatro ou ver performances, ainda não era uma coisa comum. E lembro-me de estar a passear em Belém, e ter passado no CCB com o meu namorado da altura e de pensarmos “olha vamos ver o que é que está a dar, vamos ver”. E acho que foi a primeira vez que comprei um bilhete assim sem saber o que é que era. Fui só à bilheteira e perguntei “o que é que há hoje e se há bilhetes”. Isto é uma coisa que não acontece, hoje em dia vejo tudo o que há e tomo a decisão de comprar bilhete naquilo que me interessa ver e foi a primeira vez que depois de um passeio, pensei “podes ficar aqui e ver um espetáculo”. E fomos ver o “Babel” que é uma peça do Sidi Larbi Cherkaoui, é um coreógrafo. E eu fiquei absolutamente perdida, foi assim uma das experiências que… eu não sei o que seria hoje em dia, se me tocaria tanto, ou da mesma forma, já tenho algum conhecimento, tenho um bocadinho mais de conhecimento de dança contemporânea e de performance. Mas eu sei que na altura foi um abrir de olhos para pensar que há pessoas que estão a fazer estas coisas em palco e eu fiquei muito com esta ideia, eu quero mesmo trabalhar neste mundo eu quero conhecer estas pessoas, eu quero fazer parte, eu quero poder dar o meu corpo eventualmente a alguém que queira partilhar uma ideia assim.

  • “A energia que ele estava a pôr naquela cena e que eu gostava de um dia conseguir transmitir, ter essa energia e transmitir essa energia também.”
    F. PEDRO OLIVEIRA
    PAÇO D’ARCOS, PORTUGAL
    Close ×Close ×

    F. PEDRO OLIVEIRA

    PAÇO D’ARCOS, PORTUGAL

    Quando começaste a descrever esse espectáculo que te marcou e essa cena que te marcou, eu comecei também a pensar que espectáculos é que eu vi quando decidi começar a fazer teatro e que me marcaram, vieram-me vários espectáculos à cabeça. Mas agora que me pedes para escolher um, um momento, vem-me à memória um espetáculo da Cornucópia, que se chamou a “Missão”, com uma cena do Luís Miguel Cintra em que ele diz um texto longuíssimo, completamente imóvel de braços abertos, na altura pra mim aquilo foi uau, talvez se eu visse hoje a mesma cena não teria o mesmo impacto, mas na altura teve um impacto brutal. Foi quando eu comecei, quando eu decidi ser actor, via tudo e mais alguma coisa, o que já não faço hoje, sou bastante mais selectivo, via tudo tudo tudo tudo tudo e a energia dessa cena marcou-me, nem tanto o texto de que já não faço a mínima ideia, já não me lembro, marcou-me pela energia com que estava a ser feito, a energia que ele estava a pôr naquela cena e que eu gostava de um dia conseguir transmitir, ter essa energia e transmitir essa energia também, acho que foi mais por aí.

Newsletter:

  • Credits
  • Terms and Use
  • FAQs
  • website
  • facebook
  • instagram
  • mail [collectionofspectators@gmail.com]
Close ×Close ×

what is to be a spectator?

I am creating an audio archive with several responses from spectators from around the world. To participate just write your answer directly here. Then I will record what you have written in audio !

I ask you to write in Portuguese or in English. If you are not comfortable about leaving your testimonial, that's fine, you can always have the pleasure of listening to the testimonials already collected. What you hear is an archive of testimonies added in accumulation. It is always my voice but with answers from several spectators.

To listen, just press PLAY whenever you please at the right edge of the website's footer!

The more people participate, the more diverse and curious this archive can become !

Participate!!

Thank you for participating